A entrada de cocaína no Brasil a partir da fronteira com a Bolívia, em Corumbá, sempre foi um problema para a segurança pública, ganhando um ingrediente a mais com a desativação do transporte ferroviário e a obrigação do uso de caminhões para o transporte de combustível e o escoamento do minério extraído na região do Rio Paraguai, impossibilitado de ser levado em embarcações pelo rio em período de estiagem. No caso mais recente, um caminhoneiro foi preso ontem em Terenos, após ser flagrado transportando drogas escondidas em 12 compartimentos ocultos de um caminhão Mercedes-Benz Axor com dois semirreboques carregados em Corumbá. A carreta, teoricamente de minério, escondia 22,7 kg de cocaína em pó, 41,2 kg de maconha, 35,1 kg de skunk e 35,1 kg de pasta base de cocaína. Os volumes de apreensão na BR-262, que corta o Estado de leste a oeste, dão a dimensão do problema. Em abril, foram 368 quilos encontrados sob minério de ferro. Já em maio, em Miranda, foi realizada a maior apreensão de cocaína do ano, somando 676 quilos em um caminhão que transportava ferro-gusa. Até o final daquele mês, as apreensões somavam 7,8 toneladas da droga, 86,5% a mais que no mesmo período de 2024, quando foram 4,1 toneladas. A empresa LHG Mining, do grupo J&F Investimentos, sucessora da MCR (Mineração Corumbaense Reunida), foi à Justiça recentemente para tentar reaver a carga de minério de ferro apreendida em fevereiro, quando o caminhão contratado para o frete foi retido na BR-262, em Campo Grande, após uma denúncia. Agentes do FICCO/MS (Força Integrada de Combate ao Crime Organizado em Mato Grosso do Sul) encontraram 423,7 quilos de cocaína escondidos em um fundo falso na cabine do veículo. O caso já foi sentenciado e o motorista condenado a sete anos, nove meses e 20 dias de reclusão, além de multa, com apelação pela redução das penas pendente de análise no TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul). Por conta de o pedido ter sido feito quando o caso já tinha sentença, o juiz Marcio Wust apontou que a empresa deveria apresentar a petição ao tribunal. A reportagem do Campo Grande News não conseguiu informações com a empresa sobre se a situação já ocorreu outras vezes e se houve mudança na terceirização do transporte. Mas foi possível apurar que a LHG Mining não é a única com esse tipo de problema. A Vetorial Mineração já precisou duas vezes pedir a liberação de cargas apreendidas porque o transporte terceirizado acabou também servindo ao tráfico no caminho da BR-262. Um episódio ocorreu em Terenos e outro quando o caminhão já estava no interior de São Paulo. Para evitar problemas, empresas de mineração teriam ampliado a vigilância nos pátios de carregamento com câmeras. Entre policiais, há suspeita de que caminhoneiros sejam abordados ao longo da rodovia para participar do tráfico. A Lei de Drogas determina o perdimento dos bens apreendidos com o tráfico e a destruição da droga. Então, as empresas precisam reunir a documentação para demonstrar a propriedade da carga de minério e a contratação do frete. Nesta quinta-feira, a Polícia Federal noticiou o cumprimento de mandados de busca e apreensão em São Paulo exatamente para obter provas em investigação conduzida em Corumbá sobre o tráfico em compartimentos ocultos de veículos. Houve apreensão de mídias, que serão periciadas, mas não foram repassados mais detalhes sobre a apuração. Hidrovia e minério – O setor de mineração aposta na concessão da Hidrovia Paraguai-Paraná para haver condições permanentes de navegabilidade no rio e utilização do transporte fluvial, que é mais barato e seguro, para escoar o minério e deixar de contratar caminhões para seguir pela BR-262 até São Paulo ou Minas Gerais. O projeto de concessão já saiu do MPor (Ministério de Portos e Aeroportos) e seguiu para o TCU (Tribunal de Contas da União). Há expectativa de que o edital seja publicado ainda este ano. A LHG aposta na extração de minério de ferro e manganês na região, produto considerado de alta qualidade, com perspectiva de dobrar a produção. Para o escoamento, obteve R$ 3,7 bilhões para a construção de embarcações, recurso do FMN (Fundo da Marinha Mercante) por meio de financiamento realizado junto ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).