Em MS, pecuária é campeã em “trabalho escravo” e MS contribui por ser fronteira

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Em Mato Grosso do Sul, 37% dos casos registrados de trabalho análogo à escravidão estão ligados a atividade pecuarista. Além da pecuária, as lavouras também fazem parte desse cenário de exploração, principalmente, quando se trata da produção e colheita de cana de açúcar. Apresentado nesta terça-feira (25), os dados movimentaram o encontro ‘MS Contra o Trabalho Escravo’ que será desenvolvido em diversas etapas até agosto. Organizado pela Sead (Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos) em parceria com a organização não governamental Repórter Brasil, o ‘MS Contra o Trabalho Escravo’ irá capacitar assistentes sociais de Mato Grosso do Sul. A capacitação faz parte da implementação de um projeto que tem como objetivo não só identificar e denunciar casos, mas também realizar a prevenção ao trabalho escravo no Estado. Sobre o perfil de atividades econômicas que mais exploram empregadores no Estado, o representante do programa de educação ‘Escravo, nem pensar!’, do Repórter Brasil, Vitor Camargo de Melo explica que outros setores deixam sua marca nas estatísticas. “37% dos casos do Estado estão ligados à pecuária, mas a gente tem também uma presença bastante importante do carvão vegetal, lavouras, construção civil e mineração”, diz. Apesar da pecuária liderar o número de casos de fiscalização, o antropólogo e mestre em Direitos Humanos e Cidadania comenta que as estatísticas mudam quando se fala do número de pessoas exploradas na função. “Quando você faz o resgate em uma fazenda, por exemplo, de pecuária são poucos os trabalhadores que estão empregados. Então, quando a gente olha para quantidade de trabalhadores resgatados na cana de açúcar, ela leva vantagem nessa história em comparação às outras atividades”, fala. Durante o encontro também foram apresentados peculiaridades que distinguem Mato Grosso do Sul dos demais estados do País em relação ao trabalho análogo a escravidão. A primeira é porque o Estado é um dos que mais apresenta trabalhadores estrangeiros resgatados e a segunda é o alto índice de indígenas que têm a mão de obra explorada. Nesse último recorte, o Estado supera os demais do Brasil. Para retratar ambas as situações, Vitor Camargo de Melo cita um resgate feito em 2021. “Tem o caso emblemático onde 74 paraguaios foram resgatados, mas entre eles a maioria eram trabalhadores indígenas”, fala. Rota de exploração – Coordenadora de Proteção Social Especial da Sead, Creuza do Nascimento Souza, relata que o Estado também tem mais uma característica que contribui para a exploração de homens e mulheres. Devido a proximidade com a fronteira, Mato Grosso do Sul serve como corredor por onde passam imigrantes que serão explorados em outras regiões do Brasil. “Por Mato Grosso do Sul ter essa característica de fronteira é como se ele recebesse a mão de obra barata e essa mão de obra fosse exportada para os demais locais do País. Por exemplo, São Paulo tem bolivianos que estão em situação de trabalho escravo. A porta de entrada é Mato Grosso do Sul. É como se fosse um corredor de recebimento de imigrantes em situação de vulnerabilidade que aceitam as propostas”, afirma. Até agosto cerca de 100 profissionais passam pela capacitação promovida entre Sead e a ONG que desenvolve trabalho em nível nacional sobre trabalho escravo. O ‘Escravo, nem pensar!’ capacita equipes técnicas e em Mato Grosso do Sul gestores e técnicos de secretarias e equipamentos do SUAS (Sistema Único de Assistência Social) serão responsáveis por fornecer orientações e conteúdos referentes à temática em regiões consideradas estratégicas para o combate ao trabalho escravo e ao tráfico de pessoas no Mato Grosso do Sul.

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