Além dos membros do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS) e do Tribunal de Contas do Estado (TCE-MS), um membro do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS) também foi alvo da Operação Ultima Ratio. Trata-se do procurador Marcos Antônio Martins Sottoriva, da 5ª Procuradoria da Justiça Cível do MPMS. A Polícia Federal cumpriu mandado de busca e apreensão em endereços ligados a ele. Na decisão do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), fundamentada pela investigação da Polícia Federal, Sottoriva aparece sendo favorecido pessoalmente por uma decisão do desembargador Marcos José de Britto no negócio de uma fazenda comprada pelo procurador em 2020. A investigação da Polícia Federal teve acesso a mensagens entre Sottoriva e Brito em que o procurador envia ao desembargador o número do recurso de agravo de instrumento contra decisão de 1º grau que indeferiu uma liminar em processo ajuizado por ele a respeito da compra de uma fazenda, com valor da causa de R$ 5 milhões. A PF diz que, sem ao menos ter acessado aos autos, Brito pede a seu assessor para providenciar a elaboração de decisão liminar, concedendo os efeitos pretendidos por Sottoriva, sem entrar no mérito, e assinar a decisão. “Os efeitos pretendidos em liminar eram: 1) a suspensão da exigibilidade das parcelas vincendas da fazenda comprada pelo procurador de justiça; 2) a manutenção dele na posse do imóvel rural, até a devolução dos valores que pagou; 3) suspensão do pagamento de aluguéis, pelo procurador, quanto a imóvel que entregou como parte do pagamento, mas que continua em sua posse, ou autorizar que deposite os aluguéis em juízo; 4) devolução, ao procurador, da posse de outros 3 imóveis que entregou como parte do pagamento, ou que os réus depositem os aluguéis em juízo”, aponta o inquérito. Na decisão em que ocorreu o suposto favorecimento consta que Sottoriva requer a resolução do contrato de compra da fazenda porque a China enfrentava grave surto de peste suína africana, o que valorizou a arroba do boi, tornando as prestações excessivamente onerosas, porque eram indexadas em tal valor. “Voltando às mensagens, Marcos informa para Marcelo assinar a decisão. Ou seja, também é extremamente grave a constatação de que quem assina a decisão não é o desembargador. […] Isso, a nosso ver, leva a uma grave conclusão: o desembargador não acessou os autos, não elaborou a decisão, não a conferiu e nem assinou. Portanto entendemos que a decisão judicial é nula, sendo que a atuação dele limitou-se a uma ordem a seu assessor que favorece indevidamente um procurador de justiça”. Após a liminar concedida, procurador agradece a Brito por mensagem. Segundo ele, foi fechado um acordo com o vendedor da fazenda. “Graças a Deus e ao seu trabalho … acabamos por fechar um acordo … consegui alongar a dívida em mais uma parcela. Obrigado de coração. Boa Páscoa na bênção de Deus e de seu filho Jesus Cristo". O Campo Grande New s tentou contato com o procurador, mas até o momento não obteve contato. A reportagem também pediu um posicionamento do Ministério Público, que informou não ter sido notificado oficialmente pelos órgãos de investigação. Farra da publicidade – Em 2008, o MPE (Ministério Público Estadual), por meio do então promotor Marcos Antonio Martins Sottoriva, entrou com uma ação civil de improbidade administrativa, pedindo reparação de danos, em função de ter sido montado um suposto esquema de desvio de dinheiro público na gestão de Zeca, por intermédio de empresas de publicidade. O imbróglio judicial chegou a tirar os direitos políticos do ex-governador. Nas eleições de 2018, Zeca registrou a candidatura para o Senado na Justiça Eleitoral, mas a PRE (Procuradoria Regional Eleitoral) pediu a impugnação devido à condenação na Corte Estadual. No entanto a Justiça concedeu medida liminar para que fosse mantido o primeiro julgamento, sem condenação por improbidade, até a decisão dos embargos de declaração, parado no STJ sob a relatoria do desembargador. O próprio Raufi Marques foi exonerado da gestão da então prefeita Délia Razuk, de Dourados, em 2017, onde atuava como secretário de governo, por conta da condenação julgada hoje. Operação – Durante esta manhã, a Polícia Federal cumpriu 44 mandados de busca e apreensão em Campo Grande (MS), Cuiabá (MT), Brasília (DF) e São Paulo (SP). Dentre os investigados há desembargadores do TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), conselheiros do TCE (Tribunal de Contas do Estado) e advogados. Conforme divulgado pela ordem, a comissão será composta pelos conselheiros estaduais: Ana Maria Medeiros como Presidente, Bruno Azambuja e Gustavo Gottardi. O trio será responsável por acompanhar as apurações do Superior Tribunal de Justiça. Ao todo, são investigados nove advogados, que dividem sete escritórios de advocacia em Campo Grande. A maioria dos investigados são filhos dos desembargadores afastados. São investigados Rodrigo e Renata Pimentel (filhos Sideni Pimentel), Marcus Vinícius Machado Abreu e Ana Carolina Abreu (Filhos de Vladimir Abreu), além de Camila Bastos Batoni (filha de Alexandre Bastos) vice-presidente da OAB. Na lista também estão os advogados Felix Cunha e Everton Barcellos de Souza e Divoncir Schreiner Maran Junior, filho do desembargador, já afastado anteriormente, Divoncir Schreiner Maran. Fábio Castro Leandro, filho do desembargador aposentado Paschoal Leandro, também integra a lista, mas o pai não aparece entre os suspeitos. 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